quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Projeto Pecados Contemporâneos

Poética do projeto


“Pecados Contemporâneos” pretende estimular, através de obras futuramente expostas num formato que propicia uma apreciação íntima de cada assunto abordado, um intenso debate sobre o grau de toxidade destes afectos nas relações humanas no meio social globalizado e capitalista. Num cenário pós-moderno, em que a interpretação errônea do relativismo dos valores evidenciada nas pesquisas de campo antropológico, os tradicionais valores ético-morais do Ocidente são amplamente questionados. A interconexão global e midiática colabora neste processo. As noções rígidas de bem e mal perdem a sua universalidade, fato comprovado pelos estudos etnográficos e etnológicos. Mas, em certas sociedades, adotam-se atitudes que prejudicam o bem-estar e a integridade dos outros, visando apenas à satisfação ilimitada dos desejos egocêntricos. Num capitalismo que impulsiona uma postura consumista, o gozo constante justifica, em alguns casos de ganância desenfreada que ultrapassa os limites legais, a derrubada dos valores éticos, em prol de um mercado capitalista amoral gerador de lucros cada vez mais altos. Este sistema econômico internacional atropela inclusive os acordos diplomáticos mundiais como a (rotineiramente desrespeitada) Declaração Universal de Direitos Humanos. Apesar da maioria dos países terem assumido a responsabilidade de cumpri-la, somente “meia dúzia de nações” executam seus princípios humanistas no campo social. No outro extremo, o dogmatismo fanático e autoritário, numa paranóia delirante, quer adotar como solução única, um controle manipulador dos indivíduos, através de sistemas de governos ditatoriais que insistem em exterminar seus oponentes e acabar com a liberdade de expressão.

Sem cair nas armadilhas de um discurso moralista ou messiânico, um grupo de artistas cria obras relacionadas com os pecados contemporâneos, a partir de uma visão crítica dos comportamentos sociais humanos para estimular a reflexão do público. O termo “pecado”, com uma forte carga Judaico-Cristã, influenciou a consciência humana na cultura ocidental. A transcendência metafísica dos valores morais (no contexto do mundo ocidental) nos acompanhou desde o alvorecer da filosofia, na Grécia Clássica de Platão e Aristóteles. Ao longo da História da Arte Ocidental, encontramos inúmeros artistas e obras que trataram de questões morais e éticas vinculadas a este pensamento. Atualmente, os valores Greco-Judaico-Cristaõs perderam a universalidade. A justificação transcendente ou transcendental destes valores não é mais vista como uma verdade absoluta e indiscutível, no pensamento contemporâneo, já que não podem ser comprovados, cientificamente, em si, e resultam de um condicionamento social dos indivíduos, através de signos, vivificados por afectos, nas mais diferentes culturas. Porém, esta visão antropológica não é absoluta, pois, surge como disciplina, no século XIX, dentro da história da filosofia ocidental européia. O desafio da sociedade contemporânea é conciliar esta diversidade cultural de valores com uma ética que respeite integralmente a vida humana e estabeleça limites claros para aqueles que cometem consciente ou inconscientemente (maldades “inocentes” por falta de conhecimento ou doenças mentais de origem psicológica ou neurológica, como nas psicoses) atos que prejudicam os outros indivíduos, não cumprindo os princípios escritos na Declaração Universal dos Direitos Humanos. A educação de qualidade voltada para a formação de cidadão críticos e com valores éticos humanistas, talvez, seja um caminho viável.

Os “Pecados Contemporâneos” (vampirescos e narcísicos) que corroem a relações humanas, também se apresentam num circuito de artes submetido a uma lógica de mercado. São eles, o egoísmo, a injustiça, a corrupção, o conformismo, a intriga, a exploração e a arrogância. Artistas plásticos consagrados e jovens iniciantes do cenário artístico nacional, sete artistas e uma missão, criar sete obras simbolizando cada um destes pecados. Cada artista participante simbolizará um pecado no seu estilo, usando uma total liberdade de expressão. Além dos trabalhos plásticos, o grupo realizará dois vídeos que se integram ao projeto (por isto, a necessidade de recursos mais fortes para o seu desenvolvimento). O primeiro vídeo reunirá os sete artistas discorrendo sobre as obras e o tema do projeto. Já o segundo vídeo constará entrevistas sobre o tema com filósofos, religiosos, artistas, psicólogos, psicanalistas, críticos e historiadores de arte, sociólogos, escritores, políticos e populares, entre outros. O vídeo não será um documentário padrão, mas um documentário com uma linguagem experimental, lembrando as propostas da vídeo–arte contemporânea.

Carlos da Mata

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